Motonáutica Paulo Ferreira, presidente da Federação, é direto “Eu não dou palavras, eu dou os atos, está aqui o dinheiro investido”
Tem 42 anos, é natural da freguesia de Massarelos, no Porto, sendo, em primeiro mandato, presidente da Federação Portuguesa de Motonáutica.
Na véspera da segunda etapa do Mundial de GP2 – a primeira de duas em Vila Velha de Ródão, com o rio Tejo a dividir a Beira Baixo, onde estamos, e o Alto Alentejo, numa paisagem idílica e que transmite uma paz que acaba por contrastar com o barulho dos motores dos barcos – a conversa com o líder de uma federação cada vez mais afirmativa impunha-se.
A primeira pergunta não tem a ver com a motonáutica, mas sim pelo interesse pelo interior do país. Quer explicar esse interesse?
O interior do país não pode ser abandonado e o facto de ter menos população e menos recursos financeiros, não pode ser um entrave, ou seja, não é por isso que deve ser deixado ao abandono. Essa é uma das políticas que eu sigo, defendo e continuo a defender, até porque a população do interior sabe acolher melhor os pilotos e as federações. As outras cidades já têm muitos eventos, o que mais eles têm é eventos. Aqui não é assim e nota-se o entusiasmo e a alegria das pessoas. Eu não gosto que as pessoas olhem como sendo mais um evento, eu gosto que para as pessoas seja o evento. Aqui fala-se e aguarda-se pelo evento o ano todo.
Mas isso não lhe traz mais dificuldades, ao nível dos apoios, dos patrocínios, de um orçamento compatível com um Campeonato do Mundo, como é o caso?
É uma verdade, esse é um obstáculo grande, mas para isso é que existem os dinheiros públicos e é aqui que eu digo que a Federação Portuguesa de Motonáutica recebe verbas públicas e eu invisto-as aqui. Qualquer auditor que me pergunte onde está o dinheiro que o estado fornece para o erário público eu respondo que está aqui, está aqui no interior. Eu não dou palavras, eu dou os atos, está aqui o dinheiro investido.
Disse na conferência de Imprensa que não houve apoio do Instituto do Turismo de Portugal…
É verdade, não houve.
É estranho, não é?
Não me parece. Se isto fosse nos grandes centros, no Porto ou em Lisboa, garantidamente havia dinheiro do turismo. Mas, mesmo assim, deixe-me dizer-lhe que temos Castelo Branco esgotado, Vila Velha de Ródão esgotado, isto em termos hoteleiros, mas em termos de apoio do Turismo temos zero. Nem sequer o presidente do Turismo do Centro se digna vir à prova, diz que não pode, que tem compromissos. Mas isto é uma vergonha e não comparecem porque não apoiam. Se apoiassem vinham a correr.
“Por serem menos, abandonam as pessoas, e isso revolta-me”
O que sente perante isso?
Revoltado. Sinto uma revolta muito grande. Por serem menos, abandonam as pessoas, e isso revolta-me. Mas eu não mudo a minha política.
Isso revela alguma coragem, no fundo anda a desbravar caminhos por onde quase ninguém anda…
É verdade, mas vou continuar com esta minha política, na minha cabeça eu estou correto, se me disserem que estou errado, que mo provem. Mas este é um desafio que eu lanço aos outros: fazer eventos no interior. Porque fazer nos grandes centros, nas câmaras com muito capital, onde se pede e eles dão, não é desafio nenhum. E dou o exemplo da Volta a Portugal, em que uma chegada pode custar 50 mil euros. Seria impensável vir pedir isso a um município destes para apenas uma chegada numa tarde. No fundo, é o que eles têm para oferecer. O meu protocolo com Vila Velha de Ródão é de 25 mil euros para estar aqui cinco dias e é um campeonato do mundo com duas etapas e que tem um custo de 180 mil euros, com pessoas de vários pontos do mundo, com os hotéis todos esgotados. Isto é que é investimento, porque esta prova é paga pelos sponsors, não é pelo município, o valor que o município dá é a nível logístico.
No fundo admite que investe verdadeiramente no interior de Portugal?
Claro que sim, se não vejamos que no ano passado foi em Baião, agora é Vila Velha de Ródão. Trata-se mesmo de interior e trata-se de uma política que será para manter pelo menos enquanto eu for presidente da Federação.
“Acredito cegamente que vou festejar o título”
Relativamente à prova, quais são as expectativas que tem?
Eu não escondo que quero ser campeão do mundo aqui, eu quero que o Duarte [Benavente] seja campeão do mundo em Portugal. Foi para isso que eu trabalhei, um ano a trabalhar para o Duarte ser piloto do Marítimo, falei com o presidente Carlos Pereira, arranjei os apoios para o Duarte, tenho lutado com todas as minhas forças para que o Duarte seja campeão do mundo. E vou fazer tudo para o conseguir, eu fui à Lituânia acompanhar o Duarte, estive na Madeira a acompanhar a apresentação do barco novo. É verdade que na Lituânia eu estava eufórico e continuo.
Isso não coloca alguma pressão no Duarte Benavente?
Não, não lhe coloco pressão alguma, mas sempre lhe digo que este é um trabalho com um objetivo, que é, pela primeira vez, termos um campeão do mundo em Portugal. E se não for este ano, há-de ser para o próximo, jamais pararei de trabalhar.
Ser um objetivo é coisa, acreditar mesmo é outra. Acredita verdadeiramente que o Duarte pode ser aqui campeão mundial de GP2?
Acredito, acredito mesmo. Se não acreditasse, não trabalhava. Acredito cegamente que vou festejar o título.
Mesmo sabendo que a concorrência é fortíssima…
É muito forte mesmo, está cá o atual campeão da Europa, está aqui um campeão do Mundo de Fórmula 1, a equipa do Dubai trouxe um piloto muito mais experiente, que também já foi campeão do mundo de F1, isto está muito equilibrado e será muito difícil.
De alguma forma está nervoso?
Sim, não escondo algum nervosismo, também o sinto, é natural, porque eu quero muito ser campeão do mundo.
Ter um campeão do mundo é um dos grandes objetivos enquanto presidente da Federação Portuguesa de Motonáutica…
Era sim. Eu queria fazer obras na sede, ter a sede nova, e temos, outro era ter medalhas e já conseguimos com os nossos miúdos, era também desenvolver a formação, o que também estamos a levar a cabo e o objetivo que para mim é o topo era ter um campeão do mundo nos barcos do powerboating. Se o conseguir sentir-me-ei realizado e pronto para passar a pasta, embora ainda me falte um ano e meio.
Fala sério?!
Pode ser. Não é uma garantia, mas pode ser. O que eu quero para já é cumprir os meus objetivos todos na Federação. Falta um, pode ser que seja já esta semana. Eu acredito.